Abraão negocia com Zac Efron para enterrar Sara (cap. 15)

(Livro de Genésio, cap. 15)

E estava Sara já muito avançada em idade, longe de sua idade de ouro – isto é, entre os 65 e 90 anos, quando ainda conquistava o amor de faraós e reis do deserto, além de parir crianças saudáveis. Deus, ao notar que Sara chegava aos cento e vinte e sete anos, percebeu que havia se esquecido do tempo e permitido que uma mulher passasse dos cem anos.

Matusalém tomando sol nas montanhas, já perto de sua morte, aos 965 anos.

Ora, é consenso bíblico que as mulheres nunca viveram mais de cem anos, apenas os grandes patriarcas do pré-dilúvio passaram deste ponto: Adão, 930 anos; Sete, 912 anos; Matusalém, 969 anos (teve o primeiro filho com 187 anos, foi outro homem de vigor); e por aí vai…

É bem verdade que nem estas Sagradas Reescrituras sabem com que idade Eva morreu, mas não deve ter passado dos cem, pois comeu do fruto proibido e foi a primeira a pecar.

Mas basta de tanta Matemática, o que importa é que o Senhor, machista como é, arrependeu-se de haver permitido uma vida tão longa a Sara, matando-a aos cento e vinte e sete anos. Abraão, muito triste por perder sua ex-modelo, decidiu sepultá-la com todas as honras possíveis.

Em um ato ousado, Abraão foi negociar com os bravos e temerosos hititas uma caverna onde pudesse sepultar a pobre Sara. Inesperadamente, os hititas demonstraram grande respeito por Abraão (talvez ficaram assombrados quando este lhes contou sua idade, não era coisa comum por aquelas bandas um homem chegar saudável aos cento e quarenta anos). Disseram-lhe que escolhesse qualquer lugar e este não lhe seria negado.

Em um ato de extrema humildade, Abraão se curvou diante de um deles e pediu que intercedessem diante de um hitita famoso chamado Efron, cujo primeiro nome era Zac. Este era um famoso ator e cantor do império Hitita, que já havia usado sua caverna para as gravações do Big Hole Musical e agora queria apenas se livrar da cova.

Zac Efron: o que ele tinha de másculo, tinha de avarento. Por pouco não deu uma caverna de mão beijada a Abraão.

É consenso, desde que o mundo é mundo, que os artistas são desprendidos dos bens materiais; basta que a fama suba-lhes à cabeça para seguir uma vida de extravagâncias. Mesmo assim, Abraão não pode conter a perplexidade ao ouvir estas palavras de Zac Efron: “Não, meu senhor, ouve-me: O campo te dou, também te dou a cova que nele está, diante dos olhos dos filhos do meu povo ta dou; sepulta a tua morta“.

Quem duvidar, que consulte as Sagradas Escrituras no Livro de Gênesis, capítulo 23, versículo 11; este é um dos poucos trechos onde ambas as Escrituras coincidem. Claro, os milhares de anos separam o diálogo original dos escritos bíblicos modernos produziram algum desvio, mas o sentido da conversa é o mesmo.

E Abraão, muito honrado como era, não permitiria que uma cova de luxo destas lhe fosse dada assim, de mão beijada. Então perguntou, como quem não quer nada: “Mas diga-me, apenas a título de conhecimento, quanto valeria tua preciosa cova se tu fosses vender a outro?“. E Zac Efron: “Digamos, a título de conhecimento, que vale quatrocentos siclos de prata. Ou seja, por volta de quatro quilos de metal precioso.

O escolhido de Deus, há muitos anos envergonhado pelos bens que havia ganho do faraó e do rei Abimeleque (dinheiro sujo adquirido com a cumplicidade do Senhor, é bom reforçar), não hesitou em pagar-lhe os exatos quatrocentos ciclos de prata.

E a caverna de Macpela e o campo próximo a ela foram os primeiros pedaços de terra conquistados por Abraão. Não foram dados pelo Senhor, como ele havia prometido há 60 anos, mas bem sabemos que o que esse deus promete não se escreve. Que o digam os inocentes de Sodoma e Gomorra, queimados vivos sem chance de julgamento ou algo que o valha.

A Deus só importa que nessa caverna repousarão os seus escolhidos, sendo que a primeira boa alma a se hospedar ali foi Sara. E viu Deus que era bom.

Deus convoca Genésio para uma comida de rabo (cap. 14)

(Livro de Genésio, cap. 14)

Até agora, esta série de relatos intitulada “A seita Se Quiser” seguiu um roteiro mais ou menos paralelo ao daquele livro chamado Bíblia, considerado sagrado por razoável parcela da humanidade. É por isso também que, para reforçar a analogia, usamos a expressão Sagradas Reescrituras para nos referir aos episódios aqui narrados.

No entanto, que ninguém procure um capítulo nem ao menos parecido com este na Bíblia, pois nele vamos revelar a verdadeira identidade de Genésio, o nome que aparece no limiar de cada texto, mais precisamente entre o título e o início de cada narrativa.

Ora, Genésio não é ninguém menos que o escriba que vem registrando as revelações do BibleLeaks, o mesmo que às vezes se excede e exprime juízos acerca das atitudes de Deus. Após a ousadia de questionar os desígnios do Senhor, como bem acompanhamos no último capítulo, o Todo-Poderoso convocou Genésio para justificar-se e tentar abrandar o seu castigo.

Como o próprio Genésio não está aqui para relatar o diálogo, faremos a representação fidedigna do que se passou utilizando o recurso travessão-fala-ponto, travessão-fala-ponto. Ou seja, descartando as tradicionais aspas e os subsequentes comentários que tanto marcaram o estilo genesiano de escrever. Sem mais delongas, vamos à comida de rabo:

Deus, em um momento de descontração, enquanto aguardava Genésio.

– Genésio, Genésio… tenho perdoado seus pequenos excessos nas revelações da seita, mas no último capítulo tu fostes longe demais. Terei eu que passar a pena para a escriba?

– Senhor, perdoa-me! Para Tu, ó Deus, talvez seja difícil entender o meu proceder, porque és um ser divino e não um mísero humano como eu, ou seja, uma criatura tão propensa ao erro. Outra coisa que preciso destacar é a natureza curiosa e questionadora do ser humano, a mesma que ainda lhe vai dar muita dor de cabeça por toda a eternidade, ou melhor, enquanto durar a raça humana.

– Eu bem o sei. Melhor seria acabar com tudo isso e mandar outro dilúvio, desta vez sem nenhuma arca onde pudesse salvar-se outro Caim, sua respectiva família e incontáveis casais de animais. Mas novamente vou conter minha ira, porque na verdade a vida no planeta Terra ainda me diverte muito. Não imaginas o tédio que é ficar com esse monte de anjos me adorando o tempo todo!

– Senhor, aproveitando este momento único que é estar diante de sua presença, queria fazer algumas perguntas sobre tudo o que tenho relatado até aqui nas Sagradas Reescrituras.

– Cuide lá para que eu não mude de opinião e te demita, homem!

– Tenho certeza que não são mais do que dúvidas pontuais. Primeiro, por que essa mania de destruição em massa? Não te compraz apenas a morte dos homens de má índole? Não é possível que não houvesse mais homens de bom coração em todo o mundo além de Noé, no caso do dilúvio. Também não entendo porque matastes a todos em Sodoma e Gomorra, sendo que o seu aborrecimento vinha da opção sexual dos homens que ali moravam. Ora, não poupaste nem as mulheres, nem as pobres crianças, que não ainda estavam em idade de dizer “Sou hétero” ou “Sou moderninho” (a)!

– Genésio, assim como para mim é difícil entender a natureza humana, também para tu é difícil entender a natureza divina. Eu e os outros deuses, estes que os humanos já estão a imaginar, temos uma propensão ao gigantismo, ao excesso, ao exagero. Se quiser continuar trabalhando para mim, aliás, acostuma-te com isso. Já lhe adianto que vou continuar matando pessoas às centenas e até aos milhares.

– Essa resposta já suprime outras perguntas que pretendia fazer, vou passar então a outro tema. Senhor, bem sei que Tu criastes a vida em diversos pontos do Universo e que cada planeta tem as suas Sagradas Reescrituras, como bem revelamos no capítulo 4. Mas por que, ainda se tratando do planeta Terra, não revelas o que se passa com outros povos, como os chineses, os indianos, os povos andinos, as tribos africanas, os povos árticos ou os aborígenes? Não há nada que mereça nota ao redor do mundo ou Tu não és assim tão onipresente-onisciente-onipotente como dizem?

– Quanta insolência! É claro que tudo sei, tudo posso e em todos os lugares estou ao mesmo tempo. Para ti, é difícil imaginar que ao mesmo tempo em que falo contigo, estou matando uns, salvando outros e fazendo pequenas intervenções pelo Universo. Até por isso, optei por fazer as revelações de maneira mais linear, de modo que todos compreendessem o meu poder apenas pelos personagens que selecionei até aqui, como Noé, Caim e Abraão.

– Entendo… mas não seria interessante, para efeitos literários, digamos, contar um pouco de suas intervenções em povos diversos, e depois, como os afluentes que se unem todos a um grande rio, fundir todas as histórias em uma só? Serias considerado, além de um Deus Todo-Poderoso, um grande literato, sem dever nada a um Marcel Proust, um Victor Hugo, um Dostoiévski, um Goethe ou um Machado de Assis!

– Meu caro, o negócio de Deus é criar e destruir. Isso de escrever, deixo para vocês, humanos. Se queres incrementar os escritos da seita, dou-te liberdade, desde que eu faça a devida revisão e edição antes da publicação final. E agora, deixe que Eu volte aos meus afazeres, há pessoas me esperando no Messenger, inclusive. Passe bem, estás perdoado!

A verdade sobre o sacrifício de Isaque (cap. 13)

(Livro de Genésio, cap. 13)

É possível que apenas uma mente já bastante esclerosada atenda a um pedido destes exigido por Deus. Ora, o que explica então que na manhã seguinte Abraão esteja a arrumar um jumento, dois criados, seu filho Isaque e lenha para o holocausto? Seria este homem tão desprovido de sentimentos e de bom senso a ponto de matar seu próprio filho por um capricho do Senhor?

Bem sabemos que este deus é imprevisível. Caim, que mata o seu irmão, recebe como castigo uma marca na testa para que ninguém o mate. Já a esposa de Ló, que apenas quis ter uma última vista de sua cidade em chamas, foi transformada em estátua de sal do mar Morto. Fica aqui o protesto deste escriba, que certamente será castigado por essas linhas questionadoras. Afinal, não é para isso que ganha um assessor de imprensa de Deus.

Este assessor de imprensa de Deus que vos fala, ou escreve, decidiu abrir uma exceção e protestar.

Revoltas à parte, voltemos às Sagradas Reescrituras. Verba volant, scripta manent, as palavras voam, os escritos permanecem. Então ao terceiro dia de caminhada Abraão levantou os seus olhos, e viu o lugar indicado por Deus para o holocausto. “Ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o moço iremos até ali; e havendo adorado, tornaremos a vós.”, disse Abraão aos seus criados, já tão habituado a mentir que nem alterou o ritmo ou a entonação da voz.

E tomou Abraão a lenha do holocausto, e colocou-a sobre seu filho Isaque; e ele tomou o fogo e o cutelo na sua mão, e foram ambos juntos. Após não muito caminhar, a pergunta de Isaque foi inevitável: “Meu querido pai! Estou a ver o fogo, a lenha, o cutelo, o carrasco… mas onde está o cordeiro que será sacrificado para o nosso bom e justo Senhor?”.

Apesar de toda a degeneração encefálica que andava causando pequenos distúrbios de intelecto em Abraão, não foi com pouca dor no coração que este respondeu: “Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho.

E chegaram finalmente ao lugar que Deus indicara. Edificou Abraão ali um altar e pôs em ordem a lenha; depois amarrou a Isaque seu filho, e deitou-o sobre o altar em cima da lenha. Agora tudo ficava claro para Isaque: o cordeiro era ele próprio, o carrasco era seu pai e o voyeur era Deus.

As primeiras e verdadeiras palavras do anjo do Senhor: "Ráaaa! Pegadinha do Malandro!!"

Mas quando Abraão tomou o cutelo e levantou o braço para imolar seu filho, uma voz em torno de 110 decibéis (que fique aqui registrada a intensidade, pois Abraão podia estar já ensurdecendo) interveio: “Ráaaa! Pegadinha do Malandro!!”.

E Abraão, em choque: “Pe-pegadinha? O que queres dizer, criatura??”, e eis que a mesma voz, agora já no inconfundível corpo de um anjo do Senhor, respondeu: “Seu velho sem coração, não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada!”.

Mas foi o próprio Deus Todo-Poderoso que me pediu isso!”, vociferou Abraão, indignado. “Sim, bem sei, mas sinto informar que era tudo parte de um reality show celeste. Deus apostou um GodPad com outro anjo que tu não negarias nem seu próprio filho Isaque. E como atendestes prontamente o desejo do Senhor, Ele deve estar mais do que feliz com tudo isso! Mas não é necessário que sacrifiques seu filho. Ofereça aí um cordeiro, uma cobra, um jumento, qualquer animal que lhe apeteça.”, respondeu o anjo.

Abraão, pasmo: “… quer dizer que este tempo todo eu fui apenas um entretenimento de Deus…?”, e o anjo: “Não simplifiques tanto, acabas de provar ser o homem de maior fé neste mundo! Se quiseres, posso interceder junto a Deus para que ganhes um troféu, medalha ou distintivo!”.

Mas o homem de fé inabalável não respondeu. Também não ofereceu animal algum em sacrifício e nem ficou ali por mais um instante. Sentia-se tremendamente usado e traído por um Deus que já sabia de tudo e, logo, devia saber o que se passaria neste monte Moriá. “Que anjo burro, apostar o futuro com alguém que já sabe tudo…”, pensava Abraão, ainda mais irritado.

O novo golpe de Abraão e o milagre chamado Isaque (cap. 12)

(Livro de Genésio, cap. 12)

Incestos e padeiros à parte, voltemos a atenção ao preferido de Deus, o viril e destemido Abraão. A arte do bem contar nos recomenda que passemos rápido pelo próximo episódio. Não haverá prejuízos na narrativa, pois ele se assemelha muito aos fatos referidos no capítulo 7 (Abrão, o primeiro malandro?). Basta que troquemos alguns detalhes: o Egito pela terra de Gerar, o faraó pelo rei Abimeleque, os antigos nomes Abrão e Sarai por Abraão e Sara…

O rei Abimeleque restitui Sara a Abraão. Mesmo sendo enganado, o rei quase foi morto por Deus.

Abraão, percebendo que isso de fingir ser Sara sua irmã era um negócio lucrativo, aplicou o mesmo golpe no rei Abimeleque, que foi atormentado por Deus em sonhos e até ameaçado de morte pelo Todo-Poderoso. Justo este pobre rei, que não tinha nem a mais puta ideia de que Sara era na verdade esposa de Abraão.

Passemos adiante, apenas destacando que mais uma vez Abraão teve sua vilania recompensada com ovelhas, vacas, servos e servas. “É um negócio de ouro este, bem poderia eu viver só aplicando este golpe de reino em reino, com a cumplicidade de Deus!”, pensou Abraão a esta altura.

É bom recordar que por incontáveis vezes Deus prometeu a este seu idoso servo que sua descendência seria numerosa como as estrelas do céu. Que os mais céticos não duvidem disto, pois eis que o Senhor visitou a Sara, como tinha dito, e fez o Senhor a Sara como tinha prometido.

Sara deu a luz à Isaque com exatos noventa anos. O pobre casal mal imagina o próximo intento de Deus...

E na idade de noventa exatos anos Sara deu à luz um filho, que Abraão chamou de Isaque. E na idade de oito dias o bebê teve as nádegas marcadas a ferro com os dizeres “Propriedade de Deus”, conforme foi acertado entre o Senhor e Abraão como sinal de sua aliança.

E Deus chegou a seu servo e disse “Abraão!”, e ele “Eis-me aqui!”. Certamente pensou que o Senhor o abençoaria, que faria de seu filho um rei, que talvez mandasse outro dilúvio e que salvaria apenas sua família… Mas não foi assim.

Disse então o Senhor: “Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi.

Abraão, pasmo, retrucou: “Ofe-fe-ferecer meu único filho, Isaque, em holocausto?? Este que me prometestes durante toda a vida, que Sara concebeu já velha e esclerosada?”. E o Deus Todo-Poderoso: “Yep!”.

Então o escolhido de Deus, desolado, começou os preparativos para sacrificar seu único filho, Isaque, uma aberração viva segundo as normas da reprodução humana.

O incesto do padeiro Ló (cap. 11)

(Livro de Genésio, cap. 11)

Após Ló garantir sua sobrevivência e a de suas duas filhas (a mesma sorte não teve sua anônima mulher, convertida em sal do mar Morto, é bom revelar), este que é o sobrinho de Abraão pôs-se a pensar onde moraria, agora que sua cidade estava destruída.

E eis que Ló subiu à cidade de Zoar, mas decidiu habitar numa caverna, pois constatou que na cidade zoariam muito dele quando contasse sobre os homens de Sodoma e, particularmente, do triste fim de sua esposa.

E Ló decidiu viver uma vida tranquila na caverna, agora mais entretida, desde que descobriu o ofício de padeiro. Sim, cabe aqui também a revelação de que Ló foi o primeiro padeiro, inventando inclusive aquele que no futuro seria chamado “pão de Ló”.

Alguns podem vir a argumentar que o primeiro padeiro não foi ninguém menos que o Diabo, Lúcifer, Satanás, Exu, Belzebu, Mefistófeles, ou simplesmente Capeta, visto a famosa expressão “Comeu o pão que o diabo amassou”. Contudo, a afirmação é equivocada, pois a esta altura o anjo caído ainda nem havia sido inventado, assim como aquela churrasqueira eterna e sem sentido chamada Inferno. Mas basta de revelações e voltemos às ações.

Então a primogênita de Ló disse à menor: “Nosso pai já é velho, e não há homem na terra que entre a nós, segundo o costume de toda a terra. Vem, demos de beber vinho a nosso pai, e deitemo-nos com ele, para que em vida conservemos a descendência de nosso pai.

A história do padeiro Ló é a prova de que este livro não deve ser tomado como exemplo de moral.

Que ninguém tome estas Sagradas Reescrituras como exemplo de moral e do bom proceder, pois foi assim mesmo que aconteceu. Eis que elas deram de beber um vinho a seu pai (se Ló podia ser padeiro, por que elas não podiam ser vinicultoras?), vindo a primogênita a passar uma noite inesquecível com este vigoroso sobrevivente de Sodoma.

Então disse ela a sua irmã: “Não é justo que tu continues na seca. Também na próxima noite daremos vinho a nosso pai, mas serás tu quem gozará dos prazeres deste homem. Confesso que não esperava tanto de nosso pai!”, ao passo que a mais jovem respondeu: “Para falar a verdade, não pude resistir e vi tudo o que se passou… estou excitada só de imaginar a minha vez!

Não menos empolgante foi esta segunda noite, pois se já houvesse tecnologia para tal, a primogênita aproveitaria para empunhar uma câmera e gravar um filme pornô. E não duvidemos da vitalidade de Ló, que mesmo embriagado a ponto de não se recordar de nada, foi capaz de produzir pelo menos três orgasmos em cada uma das filhas.

O velho parece ser bom de cama, pois eis que nove meses depois a filha mais velha deu à luz um filho, chamado Moabe. Não obstante, a mais jovem também deu à luz um filho, este denominado Bem-Ami.

Os moabitas e os amonitas, se soubessem de sua origem incestuosa, talvez não ficassem nada contentes e orgulhosos de si mesmos. Mas não há o que lamentar, felizmente estes povos nunca descobriram sua origem.

O importante é que Ló, velho e cansado, conseguiu conservar sua descendência, mesmo ignorando este fato. Quando viu suas duas filhas grávidas, talvez tenha pensado que foi obra do Espírito Santo, o mesmo que se encarregaria de engravidar a Virgem Maria.

O ódio homofóbico do Senhor (cap. 10)

(Livro de Genésio, cap. 10)

E eis que mais uma vez O Senhor interpelou seu servo Abraão enquanto este ia à Sodoma, onde morava seu sobrinho Ló: “Abraão, saibas que o clamor de Sodoma e Gomorra se tem multiplicado, porquanto o seu pecado se tem agravado muito. E então mais uma vez farei justiça na Terra.”

Abraão já dominava as artes do bem-pechinchar. Por aqui já entendemos como os judeus, que vieram de sua linhagem, dominaram esta técnica.

Abraão, já assustado, interveio: “Senhor, destruirás também o justo com o ímpio? Se porventura houver cinquenta justos nessa cidade, destruirás também, e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta justos que estão dentro dela?”. E Deus: “Vejas bem, não sou tão mal assim. Pouparei a todo o lugar por amor deles”.

E Abraão continuou a pechinchar: “Vamos supor que no lugar de cinquenta, haja dez justos, como procederias Tu?”. E Deus: “Obviamente não destruiria por amor dos dez.”. E continuou Abraão: “E vamos supor que entre os dez justos, um fosse advogado. Como procederias Tu?”. Hesitando, Deus respondeu: “Certamente pouparia a todos, por amor aos dez”.

Vendo que galgava pequenos sucessos, prosseguiu Abraão: “E vamos supor que entre os dez justos, um seja advogado e outro seja deputado. Como procederias Tu?”, e Deus: “Já chega, estás a abusar das suposições!

Deus enviou, então, dois de seus anjos à Sodoma (nesse meio tempo, entediado, Deus também havia inventado os anjos para Lhe adorar e para cumprir missões específicas). Ló, indo de encontro a ambos, pôs-se de joelhos e pediu que entrassem em sua casa para comer e passar a noite.

O mesmo coro seria entoado milhares de anos depois, com a mesma empolgação e grau de masculinidade, graças a um atleta de nome Ricky.

Assim foi, mas eis que, inesperadamente, um grande coro ressoava fora dos domínios de Ló: “Vamo São Paulo, Vamo São Paulo, Vamo ser campeão!”. Ló, assustado com esse coro nunca dantes ouvido por estas bandas, abriu a porta e foi checar. Então um homem se dirigiu a Ló: “Onde estão os homens que a ti vieram nesta noite? Traze-os fora a nós, para que os conheçamos”, dando em seguida uma piscadela.

Ló, mais assustado ainda, respondeu: “Rogo-vos que não façais mal! Eis aqui, duas filhas tenho, que ainda não conheceram homens; fora vo-las trarei, e fareis delas como bom for aos vossos olhos; somente nada façais a estes homens!”.

O homem então exclamou: “ALOKA! Queres tu empurrar-nos duas rachinhas, quando compreendes perfeitamente que o nosso time é outro!”, usando deliberadamente a palavra time em duplo sentido.

Depois disto, o Senhor irou-se grandemente e feriu de cegueira os homens que queriam cometer o crime da pederastia (e nada fez a Ló, que oferecera com tanta prontidão suas virgens e inocentes filhas para serem abusadas). E os anjos que estavam na casa de Ló aconselharam este a reunir toda sua família e a partir imediatamente, pois a destruição maior não tardaria por chegar.

Então Ló alertou a toda sua família, sendo que seus genros zombaram de sua humilde cara por achar que Deus não seria malvado a este ponto. E fugiram Ló, sua esposa e suas virgens e inocentes filhas (na verdade não tão inocentes, como logo saberemos).

Após lamentar brevemente a morte de sua mulher, Ló fez bom uso dela.

E Deus fez chover enxofre e fogo, desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra. E destruiu aquelas cidades, e toda aquela campina, e todos os moradores daquelas cidades, descumprindo o trato que fizera com Abraão, pois é um atentado ao bom-senso que não haja em uma cidade dez pessoas justas, mesmo que um seja advogado e ou outro, deputado.

E para completar este capítulo com uma última maldade, eis que o Senhor transformou a mulher de Ló (que não tinha nome) em uma estátua de sal, porque ela ousou olhar para trás e tentar assistir parte deste espetáculo horrendo e sádico.

Abrão rejeita a circuncisão; os bastidores de seu novo nome (cap. 9)

Deus realmente não larga seu GodPad!

(Livro de Genésio, cap. 9)

E certo dia estava Deus no paraíso usando seu tablet celeste enquanto defecava. Tal revelação não deverá chocar os leitores deste livro, pois no imaginário popular Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, sendo totalmente aceitável que ele defeque, fique excitado e até (por que não?) masturbe-se. Quanto ao tablet, bem sabemos que para Deus não há futuro, presente ou passado. Ele já sabe tudo o que foi e tudo o que virá, e tratou de antecipar essa tecnologia a si próprio, a fim de se organizar melhor.

Mas como era relatado, eis que no GodPad do Senhor soava um alerta e anunciava três eventos em sua rede social divina:

1) Dar um novo nome a Abrão e sua mulher Sarai;

2) Fazer nova aliança com Abrão (falar da circuncisão);

3) Prometer novamente um filho ao casal (repreender cachotas, insistir que sou o único Deus, blablabla).

E eis que apareceu o Senhor a Abrão (este já com noventa e nove anos) e disse-lhe: “Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito”. Abrão pensava “Putz, lá vem outra…”.

Lembrando-se de uma futura apresentadora ávida por desgraças, Deus decidiu mudar o nome de Abrão.

Deus continuou: “E porei a minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente. E não te chamarás mais Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque eis que num futuro distante virá uma mulher chamada Sônia Abrão, uma mulher que aprecia tragédias, e não quero seu nome associado ao dela!

Então Abrão (agora Abraão) notou que Deus realmente se preocupava com ele, e passou a escutar o Senhor com mais fé. Disse-lhe o Senhor: “Tu, porém, guardarás a minha aliança. Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado!”

Mas Abraão logo interpelou: “Grande aliança! Senhor, não existe nada de original na circuncisão: egípcios, etíopes e outros povos já o fazem há tempos. Tens uma aliança com eles também??”. Deus, desconcertado, respondeu: “Claro que não… O que sugeres então?”

E Abraão: “Se é pra ser dolorido e bem original, sugiro que eu, meus filhos e toda minha descendência tenhamos alguma marcação nas nádegas. Pode ser marcada a ferro quente… Que tal ‘Propriedade de Deus’?”.

O Senhor, claramente satisfeito, prosseguiu: “Perfeito! E a propósito, tua mulher não chamará mais Sarai, e sim Sara. Isso é para que não digam que sou machista e mudo unicamente o nome de homens”. E Abraão: “Acho digno. Mas seria melhor se contasse pessoalmente a Sara, ao invés de se dirigir só a mim, como sempre Tu o fazes”.

Ora, cala-te! Bom, por fim, e não penses em fazer chacota disto, mais uma vez venho a te prometer um filho, sendo que a criança virá do ventre de Sara!”, sentenciou Deus.

E Abraão: “Senhor, não vou rir porque seria cômico, não fosse trágico… De minha parte, até me garanto com uma pílula divina que Sara me deu. Mas e ela, como vai gerar uma criança estando já com noventa anos? Aliás, não achas que é um absurdo vivermos tanto em uma época que a expectativa de vida não passa dos trinta e poucos anos? As pessoas por aí morrem de febre, gripe, até de complicações dentárias!

“Chega, assim será! Não questiones mais, senão minha aliança contigo será um ferro ardente no seu ânus!”, ameaçou o Senhor, partindo logo depois.

Abrão não é mais brocha (cap. 8)

(Livro de Genésio, cap. 8 )

E após isto Abrão seguia jornada com sua mulher Sarai, seu sobrinho Ló e todos os seus criados. Mas eis que os pastores de Abrão começaram a se desentender com os pastores de Ló, e o mais velho destes disse: “Ora, não haja contenda entre mim e ti, e entre os meus pastores e os teus pastores. Aparta-te de mim, pois; e se escolheres a esquerda, irei para a direita; e se a direita escolheres, eu irei para a esquerda.

E Abrão deu uma piscadela para Sarai, sabendo que seu sobrinho escolheria as terras de Sodoma – àquela época um lugar mais próspero e agradável, mas habitado por grandes pecadores contra o Senhor.

Então Ló foi habitar em Sodoma, e não tardou muito para que quatro reis vizinhos e seus soldados invadissem Sodoma, roubassem tudo e fizessem Ló como prisioneiro. Abrão, sendo informado disto, não hesitou em armar seus 318 criados (sabe-se lá como conseguiu recrutar esse proletariado todo) e fazer guerra contra os reis invasores. E o escolhido de Deus, claro, não teve grandes problemas em expulsar estes malfeitores.

O curioso de tudo é que após Abrão e seus homens matarem e expulsarem os inimigos é que Deus apareceu, dizendo: “Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão!”. Este, claramente irritado, respondeu: “Estás a zombar de mim, Senhor? Aliás, por que não me destes filhos, sendo que tens tanto amor e apreço por mim?”

Depois que Abrão já era velho e brocha é que Deus prometeu-lhe uma descendência numerosa!

Mas Deus então veio com outra bomba: “Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência”.

E Abrão: “Hahahahahahh AHAN, DEUS, SENTA LÁ! Agora que sou um velho brocha é que vens a me prometer filhos?”. Revoltado, voltou para sua casa e foi tratar do assunto com sua mulher Sarai: “Mulher, por que será que Deus quis te fazer estéril? Acreditas que o próprio Deus falou comigo e disse que a minha descendência será numerosa como as estrelas??

Após tomar a misteriosa pílula, Abrão viu seu órgão sexual ficar do tamanho de sua barba!

Sarai então respondeu: “Tenho muita vergonha por não poder dar-te filhos, mas toma a minha serva chamada Agar e fazes um filho com ela. Sei muito bem que não te excitas mais nem com pornografia cuneiforme… Toma então esta pílula, que é para enrijecer-te!”

Tomou Abrão, pois, a pílula misteriosa, e eis que o seu membro tornou-se rígido como se tivesse ainda 20 anos, e não perdeu tempo para abusar de Agar (certamente pensando “Por que Sarai não me deu esta pílula antes??”).

E viu Abrão que era bom.

Abrão, o primeiro malandro? (cap. 7)

(Livro de Genésio, cap. 7)

E Deus continuou a observar o crescimento dos povos na Terra, agora já devidamente espalhados pelo globo. A inventividade dos chineses, a robusta cultura egípcia, a coletividade dos povos andinos… mas pensando no grande problema que era ser justo e coerente com todos, tomou uma resolução: “Isso de ser imparcial me cansa. Vou é escolher um povo e trabalhar só por ele. Cada povo que escolha um deus para lutar por si!

E eis que desta vez o Senhor achou graça em um homem chamado Abrão, que vivia pelas terras de Harã. E Deus lhe disse: “Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção”.

Seguiu então Abrão até a terra de Canaã e lá edificou um altar para o Senhor. Mas a fome logo ali bateu, e este homem, que apesar de estar na terceira idade (na quarta, para ser justo), exibia uma perfeita forma atlética, decidiu procurar melhores ares no Egito.

Conta-se que Sarai era de uma beleza estonteante, o que levou Abrão oferecer sua mulher como moeda de troca.

E disse Abrão à sua mulher Sarai: “Vejo que não ficas a dever nada para uma Geyse Arruda. Se os egípcios virem uma mulher formosa assim, certamente vão me matar para te possuírem!”. Então Sarai, que era uma mulher extremamente sexy aos 65 anos, aceitou se passar por irmã de Abrão e tentar seduzir nada menos que o Faraó.

Assim foi feito, e o Faraó não só fez bom proveito de Sarai como também premiou este o correto e sensato Abrão com ovelhas, vacas, jumentos, servos, jumentos e camelos. “Quem dera eu tivesse mais irmãs”, pensou Abrão.

Mas o Senhor rogou grandes pragas para o Faraó e sua casa devido à farsa de Abrão. Faraó então lhe disse: “Que é isto que me fizeste? Por que não me disseste que ela era tua mulher?”, mas curiosamente nenhum castigo lhe aplicou, apenas pediu que o escolhido de Deus deixasse suas terras.

E viu Abrão que era bom.

Deus não gosta de arranha-céus (cap. 6)

(Livro de Genésio, cap. 6)

E eis que essas são as gerações dos filhos de Caim, porque me deu na telha dizer: Caum, Caem e Caão; e nasceram-lhes filhos depois do dilúvio. E os filhos de Caão são Cabão, Calão e Casão. E os filhos de Caem são Carem, Catem, Cavem. E os filhos de Caum são Cazum, Cadum e Caboom.

E eles dividiram a terra, cada qual segundo sua língua, segundo suas famílias, entre as suas gerações.

Mas ignorem o que foi dito, pois eis que toda a Terra falava uma língua só. E eis que os homens, já muito entrosados e inteligentes, tiveram a ideia de construir uma torre que tocasse os céus.

O Senhor, sempre muito curioso, foi checar o movimento e exclamou: “Ora, que impertinentes! Só porque o povo é um só e fala apenas uma língua, agora acha que pode tudo! Que ideia é esta de erguer uma torre que chegue aos céus?! Qual será a próxima, o ateísmo??”

É mais alta do que o Burj Khalifa, em Abu Dhabi!“, diria um construtor mais empolgado, se assim chegasse a conhecer um arranha-céu do futuro. Mas Deus, já muito invejoso, não perdeu tempo para intervir.

As escolas de idiomas são eternamente gratas ao Senhor por seu ato de orgulho.

Em um ato serelepe, o Senhor lançou um feitiço para que os homens começassem a falar em línguas diferentes. E eis que um construtor, ao passar o tijolo ao outro, disse “Please, take this brick“, ao passo que o outro respondeu “Che cazzo dici?“, sendo logo abordado por um terceiro “Ô parrrceeero, que porrra é essa que tu tá dizeeendo?“.

E não satisfeito, Deus empalideceu o primeiro e o mandou para uma ilha muito ao norte. E deu um longo nariz ao segundo e o mandou para uma terra em forma de bota. E ao terceiro, deu um boné e uma correntinha de prata falsificada, enviando-o a um país de malandros.

Assim continuou fazendo o Senhor, remodelando os homens e mandando-os a todos os cantos da Terra. Conta-se até que para uma ilha do oriente mandou um homem depois de lhe puxar os olhos e diminuir seu órgão sexual.

Foi neste dia que nasceram as escolas de idiomas com mais de quatro anos. E também neste dia que a Terra voltou a ser povoada em todos os seus cantos – apesar que Deus prefere não revelar como enviou ao habitat original todos os animais que na arca de Caim viajaram.